7 de dezembro de 2010

"Black Swan", de Darren Aronofsky

Ontem vi "Black Swan" do Darren Aronofsky (que também fez Réquiem para um sonho) e tinha esquecido porque evitava um pouco os filmes dele. Pra começar, é aflitivo. A Natalie Portman parece que vai chorar toda hora, os olhos dela vivem cheios d'agua, ela está aflitivamente magra e o diretor fez uma escolha de mostrar aqueles pequenos machucados sem importância mas que fazem todo mundo soltar aquele sonoro "ssssss!" quando vê, como é a cena da unha quebrada e da cutícula que sangra. Aflição, não consegui parar de pensar que tudo no filme dava aflição.

Além disso, como todos os filmes do Aronofsky, Black Swan leva a personagem principal ao fundo do poço. Nesse caso, por causa da paranóia, do medo e de dezenas de outros fatores que vão surgindo durante o roteiro. Enfim, eu não quero fazer uma crítica, eu gostei (apesar de alguns momentos bem dignos dos piores filmes de fantasmas-que-vêm-matar-pessoas) mas uma coisa que não me deixou em paz foi a direção de arte junto com a fotografia.

Black Swan" é sobre uma jovem bailarina, Nina (Portman), que se torna primeira dançarina do corpo de baile de uma companhia em Nova York. Porém, Nina precisa deixar sua graça, leveza e perfeccionismo de lado para poder encarnar um papel duplo no balé "O Lago dos Cisnes" onde ela dançará como Cisne Branco (beleza, inocência) e Cisne Negro (sensualidade, esperteza e cinismo). A tarefa começa então a ser árdua demais para Nina e ela pode se tornar a qualquer momento uma ameaça a si mesma.

O mais interessante da direção de arte desse filme é que ela está presente, não é algo apenas para você se ambientar, ela está explicando também. As características dos personagens estão impressas nas paredes, nos lençóis, nos quadros, nos bibelôs. Nada é por acaso e nada é sem sentido. Cada cômodo da casa de Nina, por exemplo, tem uma função psicológica que você nota pelos objetos, pelas cores, pelos espelhos (o filme inteiro tem muitos espelhos e reflexos, mas esses têm uma explicação bem óbvia). O apartamento do diretor do corpo de baile (Vincent Cassel) aparece apenas uma vez no filme inteiro mas você consegue perceber tantos significados e sentidos para o personagem.


Por um lado, fazer a direção de arte gritar assim tem seus perigos, pode virar clichê, pode tornar todos os ambientes muito pesados, cheios de coisas que simbolizam características, mas nesse caso, a diretora de arte Thérèse Deprez (fez também Alta Fidelidade, American Splendor) conseguiu driblar essa questão e eu adorei. Como tudo é muito à flor da pele no filme, ter um certo entulhamento não atrapalha.

Não posso deixar de mencionar o figurino que, acompanhando a direção de arte, adicionava mais elementos para colaborar no conjunto físico e psicológico da personagem Nina e a maquiagem extremamente expressiva da cena do balé.








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