29 de julho de 2011

Diários de Praga - Último Dia!!

Eu não sei desenhar. Nunca soube. Já fiz curso para melhorar, meu nível chega a um "ok, querida, quem sabe na próxima encarnação.", então, ver os projetos da Quadrienal era quase um anúncio que eu estava acabada como profissional. Porém, um evento desse sempre traz surpresas...

Descobri que para mostrar minhas idéias eu posso: 


 escrever tudo o que passa pela minha cabeça...

 ... posso fazer pranchas de referências...

 ... posso fazer maquetes incríveis...


... um projeto detalhadíssimo...


... ou simplesmente pedir ajuda ao meu irmãozinho.

20 de julho de 2011

Diários de Praga 5 - E a Triga de Ouro vai para...

A Quadrienal não teria tudo isso se não existisse um prêmio. A Triga de Ouro. Confesso que demorei pra entender o "triga" mas depois percebi que triga era uma biga, só que com três cavalos. Mongolices a parte, quando eu cheguei em Praga a Triga tinha acabado de ser entregue e, qual não foi minha felicidade ao saber, que o grande campeão havia sido o stand do Brasil! Pela segunda vez, na verdade.

De acordo com o Juri:
"The exhibit offers a vivid sense of the national identity and the vital spirit of creativity that animates Brazil; a current that flows from its cultural sources and continues spontaneously to open new scenographic horizons. 
The exhibit also gives an impression of the rich diversity and the range of scenographies and productions that take place in Brazil. Equal place is given to street art, site-specific interventions, socially conscious performance, puppetry as well as to more conventional theatre. The jury acknowledges the ingenuity in resolving a number of design issues in the works presented.  The exhibition is presented with flair, sensitivity and style."

Realmente, o projeto brasileiro estava muito bem amarrado graças a autenticidade do stand. O fato de ter usado o território e a cultura de maneira aberta e sem necessidade de internacionalizações com certeza cativou o juri, como cativou a grande parte do evento. Sem contar na curadoria cuidadosa que, ao contrário, de muitos países priorizaou diferentes espetáculos e artes dando uma boa amostra do que o país tem a oferecer.

E não foi só isso, o Brasil ainda ganhou a Medalha de Ouro de Melhor Produção com BR-3, do Teatro da Vertigem.

Os outros vencedores foram:

Medalha de Ouro para Melhor Design de Palco: Numen/For Use from Croatia

Alguém se lembra do post sobre a instalação de fita adesiva? Pois é, são eles de novo! O Numen também faz cenografia e ganhou o prêmio pela forma como seus designs incentivam os diretores a trabalharem de novas maneiras.



Medalha de Ouro de Melhor Figurino: ‘Inhabiting Dress’ de Emma Ransley da Nova Zelândia

Medalha de Ouro de Melhor Trabalho em Arquitetura Teatral e Espaço de Performance: México e Grécia

Medalha de Ouro de Melhor Uso da Tecnologia do Teatro: Numen/For Use da Croácia

Medalha de Ouro para Melhor Exibição Estudantil: Letônia
Lembram do stand com a proposta do mesmo cenário para 4 peças diferentes? Pois é, as vezes um cenário é como a própria narrativa, se você consegue acompanhá-lo em todas as suas áreas, é sinal que ele está bem feito.

Medalha de Ouro para Melhor Conceito Curatório: Hungria



Menção Honrosa por Excelência no Design de Som: Reino Unido

Medalha de Ouro pelo Talento Mais Promissor na Sessão de Estudantes: Noruega

Segundo o Juri: "The exhibit, ‘Erase the Play’, presented by these students is striking in its simplicity and in the harmony it evokes. It opens the mind to endless spatial possibilities."

Mas para mim, não passava de um monte de palets empilhados. A foto poderia até dar uma idéia do que eles formariam mas a apresentação deixou muito a desejar.







19 de julho de 2011

Diários de Praga 4 - Arquitetura e Entretenimento

Saindo do confinamento do Pavilhão principal da Quadrienal, o evento toma as ruas da cidade. A sessão de arquitetura foi montada na antiga igreja de Saint Anne com uma exposição de projetos de arquitetura para teatros e áreas de espetáculos oferecendo um panorama de como e onde se anda fazendo arte pelo mundo. Uma das exibições apresentava os vencedores de um concurso de reutilização da própria igreja como área para apresentações de diferentes tipos de espetáculos. No mezanino, aulas e palestras sobre arquitetura.

A reciclagem do espaço foi incrível e transformou a pequena igreja em um dos espaços mais agradáveis da Quadrienal. Entre os projetos em exibição a comparação entre os projetos brasileiros do Teatro Oficina feito por Lina Bo Bardi e o novo projeto ainda em fase de experimentação de João Batista Martinez.



13 de julho de 2011

Diários de Praga 3 - Com que Roupa Eu Vou?

Para um evento do tamanho da Quadrienal a exibição de figurinos deixou muito a desejar! Uma pequena área num subsolo escuro, depois da instalação doida e barulhenta da Noruega não tinha nem um décimo da beleza e do cuidado das outras áreas do evento. A exposição Extreme Costume apresentava modelos feitos dos mais diferentes materiais, de papel reciclado a gelo. Nos stands, os poucos que também apresentavam figurinos, o tema era o mesmo: como inovar no uso de materiais nos figurinos. De esponja de banho a fibra ótica, valia tudo.

Materiais para a peça "O Doente Imaginário" de Molière, dirigida por Carlos Corona e abaixo imagens do figurino idealizado por Jerildy Bosch. Esponja, panos de bandeja e tecidos baratos.

 
 
Abaixo, fibra ótica no stand do Canadá






Figurino de gelo para a peça brasileira "A Menina e o Outono" de Leo Fressato e um vídeo para entender como ele era usado e o vestido de cápsulas de rifles e metralhadoras.


 


11 de julho de 2011

Diario de Praga 2 - Scenofest

Segundo dia de visita e lá fui eu ver os stands da Scenofest, área estudantil do evento mas que não perde em nada para os "adultos". A proposta no Scenofest é um pouco diferente, os stands privilegiam escolas e projetos feitos aulas, cursos ou concursos dentro das escolas. Sem ficarem tão presoas à curadoria que a mostra competitiva estava, os trabalhos da Scenofest eram diversos em todos os sentidos.

 Adorei o stand do Uruguai pela cenografia inusitada e pela forma de apresentar seus projetos, mostrando que não precisamos nos prender a croquis ou maquetes para mostrar como se altera o espaco.



 















O stand da Bélgica veio bem humorado brincando com uma piada interna sobre vieiras, ostras e o próprio povo belga. Olhando de longe o espaço era absolutamente despretensioso até você começar a se divertir abrindo as ostras e achando projetos cenográficos e figurinos ao invés de pérolas.




"Trabalho de Japonês!" Foi a primeira coisa que cruzou a minha mente quando vi o espaço do Japão. Estátuas de Dorothy, Homem-de-Lata, Espantalho e do Leão d'O Mágico de Oz em tamanho natural e INTEIRAMENTE DE PAPEL ganharam o coração de todos. Segundo a curadoria japonesa no catálogo: "Um furacão no trouxe aqui e para isso precisamos fazer as coisas leves e compactas."




 O Brasil aportou com um armazém entulhado de coisas mas, por mais que fosse visualmente lindo e muito bem atrelado ao conceito do stand dos "adultos", tinha tanta coisa que ficava difícil encontrar os projetos nas prateleiras. O bolo de fubá que saía em determinadas horas do dia, no entanto, perfumava o andar inteiro.
Mas, em meio a stands bem desenhados, loucos ou meio sem futuro mesmo, o elegante espaço de paredes pretas da Letônia era o que conseguia unir proposta e apresentação da melhor maneira sem parecer educacional. Os projetos respondiam a um desafio: criar uma mesma linha conceitual e cenográfico para 4 peças de autores consagrados:  Shakespeare, Beckett, Checkov e Blaumanis

9 de julho de 2011

Diário de Praga

"At the still point of the turning world...", uma frase pinçada da obra de T. S. Elliot, é o mote da Quadrienal de Praga deste ano e, estabelecendo o diálogo com tudo o que o evento se propõe a oferecer, a frase é completada de diferentes maneiras em diferentes paredes ao longo dos pavilhões de exposição...
 
... elegant is the word;
... absorption and theatricality;
... interruption (is one of the fundamental devices of all structuring).

Até esta edição e por mais de 40 anos o nome completo da Quadrienal de Praga era: Prague Quadrennial International Exhibition of Scenography and Theatre Architecture (Quadrienal Internacional de Exibição de Cenografia e Arquitetura de Teatros de Praga) em 2011, devido a uma mudança de escopo na curadoria, o nome mudou para: Prague Quadrennial of Performance Design and Space (Quadrienal de Design de Performance e Espaço de Prago). Motivo? Basicamente multidisciplinaridade.

Os organizadores perceberam que durante anos a cenografia foi tratada na Quadrienal como uma "disciplina entre o visual e as artes performáticas" porém, atualmente, com todas as tecnologias e todas as possibilidades de misturas de áreas e disciplinas a cenografia evoluiu, agregou e era hora de expandir o evento para dar conta dessas mudanças.

Sob o teto da Galeria Nacional de Praga ou Veletrzni Palace (acentos em várias consoantes que meu teclado não permite) estavam trabalhos de cenografia, figurino, design de luz e som do mundo inteiro. Além de diversos locais espalhados pela cidade abrigando performances, teatro de bonecos, instalações, etc. Aí eu peguei o bonde 12 e fui bater lá. E é mais ou menos assim:

A Galeria Principal é dividida em dois espaços básicos: a competitiva mundial e a mostra estudantil, chamada Scenofest. Pelos andares se espalham stands de diferentes países que seguem um conteúdo escolhido por um curador do respectivo país.

Ver os stands é ver cenografia dentro de cenografia. Nós vemos os cenários e figurinos escolhidos de acordo com o tema e vemos como este tema foi representado no stand. Acaba sendo cenografia de teatro mas também de exposição, misturado com novas idéias para exibir itens que fisicamente não cabem naquele espaço.
No primeiro dia que cheguei gostei muitos dos stands de Israel, Chipre, Espanha, Cuba e Brasil.

Chipre:  O tema era abrangente, tratando das mudanças sociais e do crescimento do teatro no país. A palavra chave do conceito era "movimento". Como a movimentação entre opostos como destruição e construção, criatividade e "readymades" influenciam na criação do espaço.

O simpático stand acompanhava a palavra chave, tudo poderia ser movido e mudado, a estrutura inteira se desdobrava em portas, janelas, gavetas e olhos-mágicos para exibir os cenários. Interatividade sem tecnologia.








Espanha: cenografia simples para mostrar o tema mais palpável da Quadrienal. "Depois do Desenho", apresentava coletivos artísticos que trabalham artesanalmente com cenografia, adereços, figurinos, teatro de bonecos, etc numa forma de demonstrar que artes visuais unem tecnologia e trabalho manual e que seus profissionais mais habilidosos podem estar ameaçados de extinção. Sem dúvida, o item mais cobiçado do evento eram os impecáveis livros de fotografias que apresentavam cada artesão.




Islândia: o tema não era lá essas coisas, "Time and Water at the House of Memories" tinha um nome lindo e pouco a adicionar. Mas, a simpática casinha "desviada pro branco" atraiu quem passava. Segundo a curadoria islandesa, era uma instalação para mostrar o  sofrimento e o esforço de sobrevivência de um artista dentro e fora de sua performance. Hummm...


















Israel: o segundo stand do pavilhão chamava a atenção pela altura e pelo título, "Os mercadores de borracha" e pelas centenas de caixas de supostas camisinhas empilhadas. O stand homenageava Hanoch Levin, dramaturgo israelense.




Cuba: era a primeira vez que Cuba participava da Quadrienal. Um papel impresso colado em um totem de madeira explicava que isso se deu principalmente pelo fato das gerações de cenógrafos da ilha não concordarem muito entre si. 3 CubanGenerations é uma amostra brevíssima do que 3 gerações podem oferecer a um país.  O melhor do stand era que é impossível não andar pela Quadrienal pensando como cada país ali financiou seu projeto e é mais impossível ainda não pensar que, provavelmente, países de primeiro mundo teriam mais dinheiro do que nós. E aí chega Cuba e faz um "não-stand" simples, sem monitores, sem panfleto, apenas flutuando no ar.


Brasil: entrando por um tradicional portão de ferro torcido o Brasil apresentava a cenografia como influência da cultural e do território nacionais. Um stand de cores vibrantes e inspirações regionais para não dizer quase que inteiramente nordestinas chamava a atenção de quem passava e foi um dos que apresentou a melhor ligação entre tema e apresentação. Direto ao ponto, bem executado, lindo. Só podia resultar em uma coisa: mas isso fica pro dia seguinte.




















7 de julho de 2011

Zapeando

Ninguém admite que gosta de novela, porém, eu admito que gosto de Cordel Encantado e acho que todo mundo já teve ter comentado como o folhetim não parece novela, parece filme porque tem aquele desfoquezinho, aquele figurino, aquele cenário e é aí que eu entro!

Não preciso dizer que adoro o cenário do Cordel e mais ainda, adoro o figurino. 
Ana Maria Magalhães, produtora de arte da novela saiu do óbvio filtro de barro, panela de barro, santo de barro e misturou tapeçarias nas paredes, tratamentos e texturas e paredes com stêncil e fez um novo sertão.

Diga-se de passagem, parece que inventaram uma estética específica para o sertão. Uma estética que ouvi chamarem uma vez numa palestra de "estética de cordel" e que se popularizou em filmes como "Auto da Compadecida", "Lisbela e o Prisioneiro" e "O Coronel e o Lobisomem". É um nordeste com toques de fábula e romantismo, como se sem isso sertão fosse muito seco para o cinema e para histórias de amor. Mas isso, será assunto de um novo post.

Indo ao ponto finalmente, pela primeira vez, tenho reparado demais nos figurinos de uma novela. Coisa que normalmente é meio pasteurizada, que só muda a cor. O que são os vestidos da Débora Bloch? E as tiaras da Rainha Helena (Mariana Lima) à lá Senhor dos Anéis? Tudo é feito artesanalmente e só a Globo mesmo para bancar.

De acordo com a figurinista cada personagem foi baseado em referências bastante específicas. Os figurinos dos personagens que vem de Seráfia do Norte, como a Rainha Helena, tem como referência a lua, curvas e algumas coisas de "O Senhor dos Anéis".


 

O figurino do Rei Augusto foi baseado no último czar russo, Nicolau II da dinastia dos Romanov, pai da princesa Anastácia, aquela que deu origem a uma lenda bem parecida com a contada na novela.


 



Já sua mulher, Alexandra, rainha mais bem vestida e elegante da época, foi ponto de partida para os figurinos da Rainha Mãe (Berta Loran) e dos modelos embasbacantes de Débora Bloch. E, procurando as fotos para esse post descobri que a estilista russa Nadezhda Lamanova, talento nato da alta costura que, aos 24 anos, já tinha como cliente a czarina que se tornaria a mais bem vestida da Europa. Vale a pena uma pesquisa, sua coleção apresentada em Paris em 1925 tinha os acessórios todos feitos de pão. Avant-garde? Imagina...