9 de julho de 2011

Diário de Praga

"At the still point of the turning world...", uma frase pinçada da obra de T. S. Elliot, é o mote da Quadrienal de Praga deste ano e, estabelecendo o diálogo com tudo o que o evento se propõe a oferecer, a frase é completada de diferentes maneiras em diferentes paredes ao longo dos pavilhões de exposição...
 
... elegant is the word;
... absorption and theatricality;
... interruption (is one of the fundamental devices of all structuring).

Até esta edição e por mais de 40 anos o nome completo da Quadrienal de Praga era: Prague Quadrennial International Exhibition of Scenography and Theatre Architecture (Quadrienal Internacional de Exibição de Cenografia e Arquitetura de Teatros de Praga) em 2011, devido a uma mudança de escopo na curadoria, o nome mudou para: Prague Quadrennial of Performance Design and Space (Quadrienal de Design de Performance e Espaço de Prago). Motivo? Basicamente multidisciplinaridade.

Os organizadores perceberam que durante anos a cenografia foi tratada na Quadrienal como uma "disciplina entre o visual e as artes performáticas" porém, atualmente, com todas as tecnologias e todas as possibilidades de misturas de áreas e disciplinas a cenografia evoluiu, agregou e era hora de expandir o evento para dar conta dessas mudanças.

Sob o teto da Galeria Nacional de Praga ou Veletrzni Palace (acentos em várias consoantes que meu teclado não permite) estavam trabalhos de cenografia, figurino, design de luz e som do mundo inteiro. Além de diversos locais espalhados pela cidade abrigando performances, teatro de bonecos, instalações, etc. Aí eu peguei o bonde 12 e fui bater lá. E é mais ou menos assim:

A Galeria Principal é dividida em dois espaços básicos: a competitiva mundial e a mostra estudantil, chamada Scenofest. Pelos andares se espalham stands de diferentes países que seguem um conteúdo escolhido por um curador do respectivo país.

Ver os stands é ver cenografia dentro de cenografia. Nós vemos os cenários e figurinos escolhidos de acordo com o tema e vemos como este tema foi representado no stand. Acaba sendo cenografia de teatro mas também de exposição, misturado com novas idéias para exibir itens que fisicamente não cabem naquele espaço.
No primeiro dia que cheguei gostei muitos dos stands de Israel, Chipre, Espanha, Cuba e Brasil.

Chipre:  O tema era abrangente, tratando das mudanças sociais e do crescimento do teatro no país. A palavra chave do conceito era "movimento". Como a movimentação entre opostos como destruição e construção, criatividade e "readymades" influenciam na criação do espaço.

O simpático stand acompanhava a palavra chave, tudo poderia ser movido e mudado, a estrutura inteira se desdobrava em portas, janelas, gavetas e olhos-mágicos para exibir os cenários. Interatividade sem tecnologia.








Espanha: cenografia simples para mostrar o tema mais palpável da Quadrienal. "Depois do Desenho", apresentava coletivos artísticos que trabalham artesanalmente com cenografia, adereços, figurinos, teatro de bonecos, etc numa forma de demonstrar que artes visuais unem tecnologia e trabalho manual e que seus profissionais mais habilidosos podem estar ameaçados de extinção. Sem dúvida, o item mais cobiçado do evento eram os impecáveis livros de fotografias que apresentavam cada artesão.




Islândia: o tema não era lá essas coisas, "Time and Water at the House of Memories" tinha um nome lindo e pouco a adicionar. Mas, a simpática casinha "desviada pro branco" atraiu quem passava. Segundo a curadoria islandesa, era uma instalação para mostrar o  sofrimento e o esforço de sobrevivência de um artista dentro e fora de sua performance. Hummm...


















Israel: o segundo stand do pavilhão chamava a atenção pela altura e pelo título, "Os mercadores de borracha" e pelas centenas de caixas de supostas camisinhas empilhadas. O stand homenageava Hanoch Levin, dramaturgo israelense.




Cuba: era a primeira vez que Cuba participava da Quadrienal. Um papel impresso colado em um totem de madeira explicava que isso se deu principalmente pelo fato das gerações de cenógrafos da ilha não concordarem muito entre si. 3 CubanGenerations é uma amostra brevíssima do que 3 gerações podem oferecer a um país.  O melhor do stand era que é impossível não andar pela Quadrienal pensando como cada país ali financiou seu projeto e é mais impossível ainda não pensar que, provavelmente, países de primeiro mundo teriam mais dinheiro do que nós. E aí chega Cuba e faz um "não-stand" simples, sem monitores, sem panfleto, apenas flutuando no ar.


Brasil: entrando por um tradicional portão de ferro torcido o Brasil apresentava a cenografia como influência da cultural e do território nacionais. Um stand de cores vibrantes e inspirações regionais para não dizer quase que inteiramente nordestinas chamava a atenção de quem passava e foi um dos que apresentou a melhor ligação entre tema e apresentação. Direto ao ponto, bem executado, lindo. Só podia resultar em uma coisa: mas isso fica pro dia seguinte.




















Nenhum comentário:

Postar um comentário